quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Reportagem sobre acupuntura em animais no Globo Repórter

Acupuntura para animais




Músculos fortes, aparência saudável. São cavalos exigidos. Deles, se esperam resultados. Mas a cobrança de uma performance nas competições muitas vezes deixa lesões que comprometem o rendimento e fazem sofrer o animal. Em uma hípica em Botucatu, no interior de São Paulo, há muitos anos se optou pelo tratamento menos convencional.
No dorso de um animal tão grande, elas quase somem, mas os efeitos aparecem. São as agulhas da sabedoria milenar da acupuntura a serviço da veterinária.
As dores dos cavalos recebem atenção de profissionais experientes da Universidade Estadual Paulista (Unesp). Já são 20 anos dedicados a pesquisas e tratamentos.
Tocando os meridianos, ou pontos da acupuntura, as mãos são capazes de diagnosticar o mal que faz um árabe de porte elegante mancar há três semanas. Miúdo tem dificuldades de saltar e reage aos toques do veterinário porque sente dores.
"O animal tem sensibilidade por uma lesão do curvilhão. Os pontos demonstram quais são os problemas que estão acontecendo com o animal. Agora, vamos tratá-lo. Eu vou aplicar uma injeção no ponto. Abri o meridiano e promovi a circulação do local doloroso. Ainda vou utilizar outros pontos. Aqui entra toda a teoria da acupuntura. Através de pontos de outros elementos, vou fazer um estímulo à distância, para que eu possa resolver a sensibilidade", explica o veterinário Jean Joaquim.
Até que, depois de colocar as agulhas, o animal não reage mais à pressão dos dedos. "Ele estava completamente sensível. Agora, não demonstra isso. Na maioria das vezes, o resultado é imediato", diz Jean Joaquim.
O princípio é o mesmo da acupuntura realizada em gente. "Nós pegamos os mesmos pontos que são feitos nos seres humanos e extrapolamos para a anatomia do animal. Basicamente são os mesmos meridianos, nós apenas fazemos uma adequação à anatomia do animal", esclarece o veterinário Stélio Luna, da Unesp.
Foi também com duas sessões de agulhadas por 40 minutos que Denrus se livrou das dores lombares e voltou a saltar. Já ganhou até campeonato.
E o que diriam os mais céticos, que acham que a acupuntura carrega uma grande dose de sugestão?
"Existem muitos trabalhos científicos na área de pós-graduação e teses feitas com acupuntura, com resultados extremamente satisfatórios. No animal, particularmente, não existe o efeito placebo", diz Stélio.
Dor não escolhe tamanho
Em bichinhos bem menores, o sofrimento aparece também na cara dos donos. Gente que procurou primeiro o tratamento convencional.
"Eu não tinha desconfiança de acupuntura e sim falta de conhecimento. Eu nunca tive convivência com acupuntura, mas fiquei maravilhada com o sucesso que se obtém com essa terapia. É impressionante o que eles conseguem com os animais paralíticos", comenta a pecuarista Maria Aparecida Ferraro.
Muitos já descobriram os benefícios do tratamento. As agulhas são mais usadas para doenças que afetam os movimentos e o sistema nervoso central. Nenê, uma poodle com hérnia de disco, chegou a ficar paralítica. Antes da acupuntura, a indicação era de sacrifício, alternativa descartada pelo comerciante Aniz Nassar.
"Eu jamais faria isso, porque acho que temos que tentar até o fim. Graças a Deus, ela já está boa", comemora o dono de Nenê.
Quem vê a alegria de Luana e do aposentado Alcides Meneghin nem imagina o estado que a pastora alemã, de nove anos de idade, chegou ao Laboratório de Veterinária da Unesp. O sofrimento do bicho de estimação atingia seu Alcides.
"Fiquei muito incomodado, com uma tristeza imensa, porque gosto muito dela. A gente também sofre", diz seu Alcides.
Os exames de raio-x mostravam que problemas no osso da bacia e uma hérnia de disco impediam a cadela de levantar o quadril. Andava se arrastando. A diferença agora é bem grande.
"Achamos que não ia valer de nada. Mas depois ficamos impressionados com o resultado. Eu recomendo", aconselha seu Alcides.
"Na verdade, a acupuntura faz com que o animal entre em equilíbrio. Então, a medicação convencional atua só no local e a acupuntura faz o equilíbrio sistêmico de todo o corpo do animal", explica o veterinário acupunturista Eduardo Diniz.
Produtividade e bem-estar
Além de pensar na saúde e no bem-estar dos animais, as terapias alternativas também se preocupam com os benefícios que o tratamento dos bichos pode proporcionar aos seres humanos. Cada vez mais os medicamentos da veterinária convencional vem dando lugar à homeopatia, o resultado em uma fazenda de Botucatu, por exemplo, são vacas leiteiras livres de doenças e produzindo um leite muito mais saudável.
A homeopatia ainda não é usada em larga escala no país, mas encontrou seu lugar na produção orgânica, em que não é permitido o uso de medicamentos convencionais. Na fazenda, todo o leite e derivados produzidos são orgânicos. Um processo saudável, sem agressão ao meio ambiente. Tão controlado que até a qualidade de vida dos bichos deve ser assegurada.
"A homeopatia, tanto preventivamente quanto curativamente, está dentro das normas do orgânico. Essa foi a causa inicial. Depois, nós vimos também que ela tem um custo muito reduzido. Isso nos incentivou ainda mais a usar a homeopatia", diz o dono da fazenda, Luiz Henrique Witzler.
Ele gasta entre R$ 20 e R$ 30 por mês no tratamento das vacas. A homeopatia é usada para combater carrapatos, bernes e mastite, inflamação das glândulas mamárias.
O custo é reduzido, pois o medicamento é preparado na própria fazenda. São os mesmos ingredientes dos remédios para humanos e misturados diretamente na ração. Evita o estresse da aplicação dos medicamentos convencionais, como as injeções.
Para o professor Hélio Langoni, infectologista e estudioso da mastite, um dos principais problemas das vacas de leite, ainda é preciso estudar mais os efeitos da homeopatia. Mas, para ele, a terapia pode significar um grande avanço na qualidade da produção leiteira.
"Nós sabemos que há uma utilização indiscriminada de antibióticos e quimioterápicos na prática veterinária. Hoje há uma tendência a se abolir isso, justamente por nos preocuparmos com a qualidade do produto final, não só do leite, mas de seus derivados", diz Langoni.
Com a homeopatia, o leite não precisa ser descartado durante o tratamento porque não tem traços do remédio, ao contrário do que acontece quando os animais são tratados com antibióticos.
"Quanto menos manejo menor a necessidade de aplicação de medicamentos. Além de gerar produtividade, isso leva ao bem-estar do animal, que é o nosso objetivo", conclui Jean Joaquim.


Fonte: http://grep.globo.com/Globoreporter/0,19125,VGC0-2703-10847-3-174896,00.html

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